Uma das máximas atribuídas a Antônio Carlos Magalhães era de que na política é necessário saber dar a cada aliado o que ele espera de você: alguns querem dinheiro, outros poder, outros proteção. E é fundamental não confundir as demandas. O resultado da sessão desta quarta-feira coloca o presidente Michel Temer no panteão dos detentores dessa arte da política.
Desde que tornou-se alvo da delação da JBS, revelada pelo GLOBO, Michel Temer usou tudo o que tinha em mãos: distribuiu cargos, abriu os cofres públicos a demandas duvidosas, entregou um mar de emendas parlamentares para as bases políticas de deputados, recebeu no gabinete presidencial todo tipo de deputado, sem qualquer linha de corte.
Quando montou seu quartel-general para tentar se defender do impeachment, Dilma Rousseff já havia se consagrado como uma presidente que tentava exercer um poder imperial sobre o Congresso. Durante todo seu primeiro mandato e o início do segundo, distanciou o quanto pode os parlamentares do gabinete presidencial e restringiu o acesso ao Alvorada, onde residia, apenas aos amigos pessoais. Proibiu deputados e senadores de acompanhá-la no avião presidencial durante as viagens pelos estados e tratava seus pedidos de auxílio, mesmo os legítimos, como se fossem puro fisiologismo.
Temer é o exato oposto. Desde o primeiro dia de seu governo fez questão de dizer publicamente que faria uma gestão parlamentar. Nomeou 12 deputados e dois senadores para seu ministério, recebeu dia e noite todo tipo de parlamentar no Palácio do Planalto ou no Jaburu. Nas viagens que fez, mesmo as internacionais, carregou a tiracolo até os mais folclóricos dos integrantes do baixo-clero.