BBC Brasil - Como avalia a saída do partido?
Roberto Requião - Em primeiro lugar, a saída de um partido do governo é uma coisa normal no sistema democrático. Mas, tudo isso tem que ter um pressuposto: por que vamos sair? O que queremos ao sair? O que propomos para o país? Não vi nada nisso. Vi na mesa o (Eduardo) Cunha, o (Eliseu) Padilha e o (Romero) Jucá comandando uma reunião em que não sei quem votou, porque não havia identificação de eleitores, foi por aclamação. Logo não se pode nem saber se era o PMDB que estava lá.
E não há nenhuma proposta alternativa, pelo contrário. O Jucá é o porta-voz de um documento que se chama Uma Ponte para o Futuro, que é uma espécie de protocolo dos sábios do mercado. É mais radical do que toda a operação fiscal do (ex-ministro da Fazenda) Joaquim Levy, que beneficia o capital especulativo e prejudica duramente o trabalho. É pior do que o que se propôs para Grécia, Itália, Portugal e Espanha. Mas esse documento não é do partido.
BBC Brasil - Ele não pode ser considerado uma proposta?
Roberto Requião - Claro que não. Não tem proposta. Esse documento foi levado a uma reunião nacional da Fundação Pedroso Horta (órgão de formulação política do PMDB) e foi rejeitado. Nem puseram em votação porque havia uma rejeição absoluta da base partidária.
Não entendo o que significa sair do governo. Por quê? Para quê? Propondo o quê? Digo isso com conforto, porque me manifesto contra a política econômica do governo desde o primeiro dia.
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BBC Brasil - O senhor falou em ameaça à democracia. Acha que os caminhos que estamos percorrendo na política arriscam o sistema democrático?
Roberto Requião - (Os caminhos) são imprevisíveis. Há uma campanha amplíssima de desmoralização, em parte merecida, da política e dos políticos. Isso pode abrir espaço para vir um super-herói, dependendo das circunstâncias, da direita ou da esquerda.
BBC Brasil - Quem seria esse super-herói?
Roberto Requião - Pode vir um Bolsonaro, um general salvador. Por isso prefiro que as coisas sejam resolvidas dentro do processo democrático. Sérgio Moro, por exemplo. Achava um sujeito extraordinário no começo do seu trabalho, mas extrapolou os limites do direito.
Sem o trabalho dele e dos procuradores, nós não saberíamos de nada. Só que são juízes e não percebem a utilização de seus exageros para a dominação do capital financeiro sobre o país. Eles estão sendo instrumentalizados e (ficam) satisfeitíssimos pela própria vaidade. Agora, o trabalho deles é muito bonito.
BBC Brasil - Mas é questionável?
Roberto Requião - Porque está atropelando espaços do garantismo jurídico. Acho que o Moro é quem menos acredita na Justiça no Brasil. Porque ele provoca esses vazamentos para pressionar o Supremo Tribunal Federal. Mas Moro tem que ver o que aconteceu primeiro com Weimar (república estabelecida na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial), que, num esforço moralizante, só punia os progressistas e a esquerda. E deu margem para o surgimento do Hitler. O que aconteceu na Itália quando surge o Berlusconi. Quer dizer, estão embalados pela sua visão paladina e estão abrindo espaço para a direita brasileira.
Não quero que parem. Mas não podem passar do limite legal.