A UNICAMP, cuja verba inteira de pós vai pra pesquisas (principalmente de soja) ... tem um SENHOR programa de bolsas.
Tem a bolsa moradia, que é basicamente deixar a pessoa morar na moradia (q tem transporte gratis pra universidade)
Tem a bolsa alimentação, que é comer no restaurante universitario de graça (preço normal : 3 reais para estudantes e 10 para não estudantes)
Tem a bolsa transporte, que é uma ajuda de custo baixa para ser usado com transporte e gastos
Tem a bolsa trabalho, que é uma ajuda de custo alta (era uns 600 reais quando eu tava la) em troca do aluno fazendo 2 periodos por semana de "trabalho" (tipo ficar no balcão da biblioteca)
E mais outras ... no site tem umas tipo
Bolsa Emergencial, Bolsa auxilio estudo e formação e outras q eu não cheguei a conhecer pessoas q tinham então não manjo muito pra explicar =P
Mas isso era antes do
corte de verba de 40 milhões que gerou protestos desde maio até o começo desse mes. Protesto esse que sempre foi muito bem noticiado
Fuck yeah cachorro guerrilheiro
Acho que isso prova um pouco o que eu digo; se é questão de dar dinheiro pra pessoa estudar e sair com diploma, você não precisa de uma universidade pública. Se a privatização fosse só questão de "ensino de graça", universidade já seria privada, acho. Seria só acrescentar mais uma bolsa em cima desse monte. O que é difícil de privatizar não é o ensino, é a pesquisa.
Olha, posso falar só pela USP agora (que é meu segundo lar há 14 anos). Mas ela foi criada para ser centro de excelência de pesquisa (e claro, manter a elite de SP elite, mas vamos deixar isso de lado). A idéia da USP é, sempre foi e sempre será formar "formadores".
O problema é que mesmo com o enfoque mais teórico (a Unicamp, por ex, é bem mais moderna que a USP) ela acaba atraindo as pessoas que querem se formar para o mercado de trabalho pq ela tem qualidade e reputação.
Uma coisa que me espantou mto qdo eu vim pra SP foi a quantidade de gente de SP (com grana) q não faz USP, pq pra mim era óbvio que se vc tem oportunidade de fazer cursinho, tinha que ir estudar na melhor. De onde eu venho (SJCampos), a cultura de passar na IVY LEAGUE PAULISTANA (hahahaha) é fortissima, isso pros que não querem fazer ITA e tal. Então, é meio que "obrigação" da classe média de lá fazer uma das três, a não ser que seja um mal aluno mesmo e se contente com menos.
Bom, com a visão que eu tenho hoje, o grande problema é que faltam faculdades particulares de qualidade. A PUC é excelente, e temos uma ou outra em algumas áreas. A ESPM é referência, a GV também é de altíssima qualidade, mas elas juntas nem arranham o tamanho da USP - além de custarem caro. Além disso, só conseguem absorver o pessoal que é de SP mesmo (pagar aluguel pra morar em SP + mensalidade é definitivamente não é pra qualquer um).
O resultado disso é que a USP quer ser uma instituição de pesquisa mas ela acaba recebendo muita gente que só quer um ensino profissionalizante. E não tem mto como selecionar isso, sabe? Pq mesmo o carinha que fez ciência da computação e não aprendeu muita coisa prática de verdade (o curso é criticado por ser extremamente teórico), ele desenvolve diversas competências e habilidades que vai fazer ele aprender se virar sozinho no mercado de trabalho.
Aham. Eu sou um recém-uspiano (fiz faculdade privada na São Judas e aí mestrado na USP), não quero nem de longe desmerecer com isso, mas quando a USP aparece na lisa de "melhores universidades da américa latina" e tal é porque as coisas medidas são professores com doutorado e o quanto esses professores publicam, o que numa universidade direcionada para exatamente ter um monte de professor com doutorado que publica muito fica fácil. Obviamente não quer dizer que o ensino é ruim, mas há aí uma desconexão entre o que é ser um berço de ciência e um berço de profissionais. Há também uma confluência, mas enfim, as duas coisas não são exatamente a mesma de nenhum modo.
Por outro lado, tirando as universidades particulares de elite, tá cheio de curso bosta por aí. Nâo faz mto tempo que uma faculdade grande aí comprou outra e eles mudaram o plano de carreira (pra pagar menos) e DEMITIRAM TODO MUNDO pra recontratar o povo com salários menores.
A busca pelo lucro também faz com que essas faculdades não gostem de gente qualificada. Já tive dois amigos demitidos pq terminaram o doutado então passariam a receber mais. Embora essa seja uma lógica do mercado em diversas áreas, é realmente triste ver que professor bem qualificado é descartado.
Universidades particulares tem mil problemas, sim. Talvez seria questão de regular melhor o que constitui ensino privado, mas sim, quando eu fiz São Judas era essa coisa bizarra de que os melhores professores eram demitidos um por ano, exatamente por serem os melhores professores, pois eram mais caros. Era uma anti-tenure, em que seu emprego estava mais em risco com o passar do tempo.
Esse foi um outro choque pro meu eu de 17, 18 anos: nas estaduais (e acho q nas federais tb) não pode mais contratar gente sem doutorado, na USP mesmo mais de 99% dos professores tem doutorado (pq tem uns que sobraram da época q era possível contratar mestre). E em muitas faculdades particulares eles DEMITEM os doutores pra manter apenas a cota minima exigida pelo MEC.
Não sei como resolver isso sem o governo ir lá e legislar esse tipo de coisa, o que eu honestamente não sei se deveria ser feito; por tudo que uma universidade privada é escrota, elas não tem lá um lucro enorme também que a gente pode apontar ganância logo de cara.
Por outro lado, acho que exigir que só doutores lecionem acho razoável; o problema entra naquilo que o Tomas fala, onde espera-se do cara ser cientista e professor tudo ao mesmo tempo; mas em país civilizado (que não é o caso dos EUA na educação) é normal precisar de mestrado para dar aula em colégio. E aí pagar e ter um ambiente de trabalho de acordo com o que um profissional com essa formação espera.
Deveria ser a norma também um doutorado para dar aula em universidade, pública ou privada.
Então eu concordo que tá faltando uma faculdade mais barata que a PUC mas que seja comprometida com a qualidade. Pq faculdade já é ensino profissionalizante mesmo, quem fez MBA sabe do que eu to falando. O horror...
Ou faculdades particulares tão boas e caras quanto a PUC onde o governo banca as mensalidades de quem não pode, que é o que é proposto quando alguém fala em privatizar as públicas.
O inverso também rola. Eu quero ser professor universitário e entrei na carreira de pesquisa pra isso. Preferia só dar aulas, mas a progressão de carreira fica terrível se você não ficar lancando artigos aqui e ali.
E nos EUA é fogo. Professor de lá que vem pr cá a acha surreal a carga horária de aula. Lá eles dão aula por uns 40, 50 minutos e o resto é lista de exercício e monitor. Pra muitos professores que já tive isso seria ótimo, mas pros bons eu acho que seria uma perca. Aula boa com alguém interessado ajuda demais.
Essa cultura de artigos está sendo tão criticada que acho que algum dia desses algum país grande muda a forma de distribuir bolsa de estudo; porque o problema todo é esse ciclo.
Pesquisa precisa de bolsa, as bolsas são dadas por mérito, mérito é calculado em quantidade de papers entregues.
Revistas baseadas em peer review é uma instituição que, embora funcione em grande parte, tem gerado uns circulos vicíosos que acho que vai levar a algum colapso em um tempo. A Vox está em uma cruzada contra isso faz um tempo:
http://www.vox.com/2016/7/14/12016710/science-challeges-research-funding-peer-review-process
http://www.vox.com/2015/12/7/9865086/peer-review-science-problems
Acho que eles exageram um pouco, mas enfim, eu 100% concordo que o modelo de bolsa de estudos deveria ser revisto para recompensar método ao invés de resultado (o que põe a instituição da universidade ainda mais distante de um ideal do mercado).
O jeito que funciona hoje é tipo: você coleta dados, deriva alguma conclusão deles, publica o estudo, sua universidade ganha um pontinho que afeta diretamente quanto dinheiro ela ganha.
O jeito que deveria funcionar é tipo: você coleta dados, publica eles raw sem nenhum tipo de conclusão, refaz experimentos dos outros, publica esses dados, etc e tal e às vezes, se pá, depois de ver dados ao redor do mundo, talvez, depois de pensar muito, com muito carinho, se quiser, você deriva alguma conclusão deles.
Porque o problema é que em ciência, a maioria dos estudos não tem conclusão mesmo, a ciência conclui muito pouco e isso é bom porque falsiabilidade é uma parte enorme do esquema. E que certas hipóteses sejam de fato falsas é esperado; mas não há nenhum incentivo para enviar pra uma revista um paper que diz "nós re-testamos aquela hipótese que o primeiro lab já mostrou falsa e, bom, é verdade, é falsa mesmo, nothing to see here, move on".
Nós temos essa benção de ter instituições científicas sem fins lucrativos e elas trabalham sob a lógica de uma meritocracia mesmo assim. Algum dia alguém tem que achar uma solução.
(talvez o errado não seja culpar a meritocracia, mas sim o que a meritocracia julga: ciência não se mede em conclusões, mas em metodologia e experimento, talvez a saída seja direcionar a meritocracia para um modo de 'boas práticas' ao invés de 'bons resultados')
(minha aposta:
https://cos.io/)