É um presidente caindo antes do fim do mandato. Há pontos em comum com 64.
A minha crítica é que quando PT e PSOL (são incluídos aí militantes, políticos, artistas e intelectuais ligados aos partidos) usam 64... bom, é que eles usam 64.
Já fiz um post enorme sobre isso. 64 traz à tona tortura, morte, censura. Aí o allansm disse "não é desse tipo de golpe que estamos falando", ok.
Aí chega o dia de hoje e, sim, é desse tipo de golpe que eles estão falando, eles citam 1964 assim que podem.
Nesse caso que a postura da Rede nesse processo me atraiu ao partido. A Marina Silva e a Heloísa Helena são claramente pró-impeachment, mas, curiosamente, os deputados da REDE e o seu único senador, que é o Randolfe Rodrigues, se posicionaram contra. Mas não é um contra "oh, pobre Dilma, injustiçada, tão injustiçada, tadinha", é um contra que eu provavelmente votaria lá também nessa última etapa, apesar de tudo que falo; pois passado isso tudo, eu não estou convencido que houve o crime de responsabilidade, eu tiraria ela de lá só pelo prazer de tirar ela de lá, mas não é nossa constituição, e acho que há casuísmo sim de estarem menosprezando a ausência de crime em prol do "conjunto da obra", mas nada disso é golpe. E se você for falar em golpe, comparar com 64 é só vitimização cínica de quem é mero bode expiatório das mesmas elites que jamais levantou um dedo pra tentar combater.
Ora, é possível ser contra esse impeachment, denunciar toda a hipocrisia, todo o casuísmo e todo o teatro dos deputados e dos senadores sem fazer um jogo, também hipócrita, casuísta e teatral de ficar gritando "golpe" e "1964". Esse não é um simbolismo pequeno, não é uma mera palavrinha que usam ali e que pode ser trocada por outra. É um desserviço à democracia e uma desinformação em prol da manutenção de poder de uma elite política; igual foi quando a Dilma chamou o Lula pra ser ministro só pra tirar ele da prisão, igual foi quando ela inaugurou um segundo mandato baseado num ajuste fiscal que o seu vice agora dá plena continuidade embora tenha feito campanha justamente contra isso, igual foi quando usou as pedaladas que não estão sendo julgadas aqui, as de 2014, com o propósito explícito de mentor ao país em relação às contas públicas em pleno ano eleitoral e tantas outras coisas.
Esse impeachment, baseado nesses crimes, não tem fundamento a meu ver, "na minha opinião" e ele é também ruim do ponto de vista prático porque mantém os mesmos no poder, significando que passamos a maior parte desse ano discutindo uma transição vazia, dos que não querem cobrar os bilionários sonegadores e dos que não querem taxar os ricos para os que não querem cobrar os bilionários sonegadores e dos que não querem taxar os ricos, a diferença, talvez, sendo a questão ridícula de que para os primeiros a dívida pública não importa (o que é falso) e para os segundos, ela se resolve sem mexer nos bolsos mais polpudos (o que é falso). Mas não é golpe. Não é uma defesa de um estado de exceção, não se fala em extinção do congresso, não há violência, os mesmos partidos poderão disputar as eleições em 2018. Se todas essas coisas não importam pra você, então eu diria que você está focando no ponto errado do problema com uma ditadura.
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Dilma não é o Collor e o Temer não é o Itamar. Pra começar, a Dilma tem a máquina pelega do PT e o Temer é presidente do maior partido do Brasil. Isso dá a ambos um protagonismo nesse processo que nem Collor e nem Itamar tiveram.
Collor não tinha como "colocar gente na rua" ou convocar greve ou coisa do tipo (o PT aparentemente não mais também, mas vejamos como a coisa acontece depois do impeachment estar finalizado) e o Itamar não tinha cacife político dentro do próprio partido como o Temer tem.