O problema dessa situação toda do turbante é que, como boa parte das polêmicas da internet, acaba virando uma disputa em que apenas duas respostas existem e cada lado escolhe a que lhe convém como certa e pronto. Primeiro de tudo, tem que dividir as coisas, a história tem dois pontos de discussão: a questão do turbante ser usado por uma pessoa branca e a outra questão que é da pessoa ter sido abordada na rua para que tirasse o turbante.
O turbante é exclusivo de uso africano? Não, mas isso não muda toda a história problemática que envolve esse acessório no Brasil, como já postado em links aqui do tópico. Há sim uma reclamação muita justa em que o turbante utilizado por negros recebe uma conotação ruim pela sociedade, enquanto que quando usado por brancos acaba sendo mais bem visto. Também é compreensível que com isso os negros possam se sentir incomodados ou mesmo ofendidos com essa injustiça no tratamento. E essa discussão do turbante é até que um pouco antiga, você consegue achar pessoas falando sobre isso em anos anteriores, não é algo que surgiu só agora nesse caso, ele já vem de algum tempo. Então isso impede que qualquer um use turbante? Não, a pessoa pode vestir o que quiser, mas ela tem que ter noção que o direito de vestir o que quiser não significa que ela não esteja ofendendo ninguém.
Agora, mesmo que se considere que o turbante é de certa forma uma apropriação cultural no caso brasileiro, eu não consigo concordar com a ideia de que uma pessoa te abordar na rua para dizer que sua roupa está ofendendo ela é algo aceitável. Se ainda fosse uma vestimenta que promovesse ativamente alguma ideia racista, como um uniforme nazista ou da Klu Klux Klan, eu até entenderia um pouco mais, mas o caso aqui é uma reclamação de que simbologias africanas estariam sendo roubadas por empresas capitalistas e vendidas como produtos quaisquer, então fica difícil de defender uma atitude dessas. O modo de vestir das pessoas é algo muitas vezes bem pessoal, um estranho te reprimir por isso é de certa forma um ataque a sua pessoa e sua individualidade, principalmente quando a pessoa já está sofrendo por outros motivos. E isso vale para o caso da menina com câncer que acaba sendo obrigada a arrumar alguma forma de esconder que seus cabelos caíram porque o padrão de beleza feminino não aceita mulheres carecas, ou mesmo para o caso da youtuber do link da Platy, que mencionou que é diariamente abordada por pessoas que falam que ela deveria cortar o cabelo dela porque não tem um penteado nos moldes europeus. Reclamar que ideias, acessórios são ofensivos e que empresas estão envolvidos no rolo é uma coisa válida, mas discutir pessoas nesse caso não.
Por fim, sobre o Bolsonaro, eu sinceramente não acho que seria isso que faria alguém votar nele. Uma pessoa não vai mudar completamente seu modo de ver minorias só porque começaram a reclamar agora que turbante é apropriação cultural, o conservadorismo existe porque as pessoas já são conservadoras, e não porque os liberais empurraram elas para esse caminho.