Sim, eu acho isso importante. Crises econômicas às vezes tem o poder de fazer uma população "mudar de lado" (vide EUA 2008 onde a crise meio que matou Reaganomics e agora o Trump está numa plataforma anti-globalização e pró interferência no mercado, mantendo só os cortes de impostos), mas não aconteceu aqui. Dada a escolha, acho que o brasileiro ainda escolheria tentar uma social democracia europeia, é só que a escolha não é dada.
A escolha de certa forma não é dada pelos partidos também. O partido dos trabalhadores mente, eles fazem alianças pelo poder e deixam o povo pastando, isso a gente já viu, confiar é besteira. Idem o partido comunista do Brasil.
O partido da social democracia brasileira está se metamorfosiando em partido republicano norte-americano faz um bom tempo. A pitada conservadora que o partido teve uma vez é o que o partido arrisca se tornar por inteiro também. Defender o PSDB é complicado pra todo mundo preocupado com direitos humanos, com uma polícia menos assassina, etc e tal.
Aí o partido socialista da liberdade ainda não decidiu se quer socialista ou da liberdade (perdão o clichê); e acho que dá pra ser os dois, 100% dá pra ser os dois, mas tem que começar a denunciar ditaduras, ditadores e o passado assassino da ideologia. Tem que parar com a retórica anti-democrática de que quem é contra é automaticamente fascista e inimigo, enfim, tem que amadurecer.
Existe um projeto de Brasil social-democrata sendo porcamente construído desde que FHC venceu; eu diria que as privatizações fazem parte desse projeto porque uma visão dele é que se o Estado vai fornecer uma rede de segurança social, ele não pode se distrair com venda de minério e etc.; a Dilma prometeu continuar esse projeto e mentiu. Aí vem o Temer e aprofunda o projeto mentiroso. Pior, aprofunda com a chance de quebrar ele por 20 anos, o que é um absurdo incrível.
Alguém tem que retomar. Seria bom se fosse a REDE, mas eles precisam ou colocar a casa em ordem internamente ou comunicar claramente que a intenção do partido é ter um teto enorme onde várias ideologias podem se sentir seguras e que, portanto, a casa sempre vai estar meio desarrumada. E aí explicar porque isso não é um defeito.
Dito isso, duas coisas:
Muito tem se dito do MBL e do Vem Pra Rua serem políticos e partidários e, bom, é verdade, é alguma contradição, mas até aí, é no mesmo nível de crítica rasteira e bobinha que reclamar que socialista tem iphone. É o sistema no qual o cara está inserido; assumindo que ele é honesto, ele está revoltado com a política partidária, mas aí tem uma chance de entrar nas entranhas da coisa pra mudar, ele não aceitaria? É a mesma coisa que os socialistas e até comunistas vem dizendo, com razão, faz décadas, se não mais de um século.
Exceto que, claro, o cara defende pautas que você considera absurda, aí partir do princípio que alguém honesto defende algo que você discorda com veemência é uma dor logo de cara.
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Odebrecht e Leo Pinheiro são "ricaços não-políticos", ambos presos. Existe um extremismo contra a única investigação anti-corrupção que dá certo na história desse país que não bate com a realidade. Criticar, fiscalizar, coisa e tal, mas criar universos paralelos onde agora sequer os empresários que estão presos estão presos não, né.